quinta-feira, 3 de junho de 2021

América espanhola no século XIX

  PÓS-INDEPENDÊNCIA

Ao longo do século XIX, com a eclosão dos movimentos de independência colonial, o território correspondente às possessões espanholas na América passou por um tortuoso processo de fragmentação. A despeito dos esforços unitaristas de políticos como Simón Bolívar (defensor do panamericanismo), a força dos caudilhos e a influência exercida por forças estrangeiras, como Inglaterra e Estados Unidos, decretaram a pulverização das terras hispano-americanas, acarretando o aparecimento de inúmeras e distintas nações.


No entanto, essas profundas mudanças que marcaram o espaço territorial não foram acompanhadas de transformações, ao menos não com a mesma intensidade, no que diz respeito às estruturas socioeconômicas. A base das economias dos novos países permanecia fundamentada em atividades agroexportadoras, com forte dependência do capital estrangeiro, notadamente inglês e norte-americano. Desenhava-se, assim, a inserção dessas regiões em uma nova ordem colonial, agora não mais ancorada na dominação político-administrativa, mas na preponderância econômica de potências internacionais.


No mesmo tom, as desigualdades sociais continuavam imensas. A exploração voraz sobre as populações indígenas, africanas e seus descendentes persistia, assim como os setores economicamente dominantes continuavam a ser formados pelos mesmos grupos que predominavam nos tempos coloniais: os antigos “criollos”, grandes fazendeiros e donos de minas na sociedade hispano-americana, integravam agora as influentes oligarquias rurais.


ESTRUTURAS POLÍTICAS

De um modo geral, foram justamente os participantes dessas poderosas elites que passaram a comandar o sistema político nessas nações recém-emancipadas. E mesmo que o caminho tomado pela grande maioria dessas regiões tenha sido o da proclamação da República (com exceção do México, que teve um breve período monárquico), tal escolha não proporcionou necessariamente uma maior democratização das instâncias públicas. Ao contrário, as estruturas governamentais foram aparelhadas pelas elites agropecuárias e moldadas segundo seus interesses privados.


Neste cenário, sobressaía-se a figura do “caudilho”, indivíduo integrante das oligarquias que, através de uma relação clientelista e paternalista com as populações sob sua influência, coordenava a política local e interferia nos caminhos tomados pelo país. Em muitos casos esses “líderes carismáticos” mostram-se ainda hoje como importantes personagens na dinâmica político-social de diversos países latino-americanos, fato que contribui claramente à manutenção das misérias nessas localidades.


ESCRAVIDÃO

Outro aspecto que representa as permanências da sociedade colonial na América Espanhola pós-independência foi a manutenção da escravidão em diversas nações da região. Países como Bolívia, Peru e Paraguai mantiveram inalterado o status da mão de obra cativa até meados do século XIX. E mesmo nas localidades nas quais a abolição dessa relação de trabalho se deu prematuramente, os grupos afrodescendentes conservavam-se marginais, muitas vezes submetidos, inclusive, à escravidão ilegal.


A situação das populações indígenas não era muito distinta. Por mais que fossem raros os casos de escravidão desses grupos, estavam normalmente submetidos a péssimas condições de trabalho. Herança dos tempos coloniais, esses nativos americanos tiveram suas terras usurpadas pelos espanhóis e, agora, mantinham-se excluídos no espaço rural, dominado pelos grandes latifundiários. Na atualidade, boa parte dos miseráveis latino-americanos é composta por descendentes de indígenas, principalmente em regiões nas quais sua mão de obra foi importante no período de dominação espanhola, como o México, Peru e Bolívia.



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